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sexta-feira, 2 de novembro de 2012

PENSO E PASSO
ALICE RUIZ
 
Quando penso
que uma palavra
pode mudar tudo
não fico mudo
MUDO
Quando penso
que um passo
descobre um mundo
não paro
PASSO
e assim que
passo e mudo
um novo mundo nasce
na palavra que penso
O BOI
CARLOS DRUMOND DE ANDRADE
 
Ó solidão do boi no campo,
ó solidão do homem na rua!
Entre carros, trens, telefones,
Entre gritos, o ermo profundo.
 
Ó solidão do boi no campo,
Ó milhões sofrendo sem praga!
Se há noite ou sol, é indiferente,
A escuridão rompe com o dia.
 
Ó solidão do boi no campo,
Homens torcendo-se calados!
A cidade é inexplicável
E as casas não têm sentido algum.
 
Ó solidão do boi no campo!
O navio-fantasma passa
Em silêncio na rua cheia.
Se uma tempestade de amor caísse!
As mãos unidas, a vida salva...
Mas o tempo é firme. O boi é só.
No campo imenso a torre de petróleo.
QUE LOUCURA
SÉRGIO SAMPAIO
 
Fui internado ontem
 Na cabine cento e três
 Do hospício do Engenho de Dentro
 Só comigo tinham dez

Estou doente do peito
 Eu tô doente do coração
 A minha cama já virou leito
 Disseram que eu perdi a razão

Tô maluco da idéia
 Guiando carro na contramão
 Saí do palco e fui pra platéia
 Saí da sala e fui pro porão